Moradores do Maláui processam ONG por mortes causadas por elefantes realocados

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Moradores das áreas adjacentes ao Parque Nacional de Kasungu, no Maláui, estão entrando com uma ação judicial contra a ONG International Fund for Animal Welfare (IFAW), após a transferência de mais de 250 elefantes para a região.
Segundo os residentes, os animais, que foram realocados em 2022 como parte de um projeto de conservação, têm causado mortes e destruição generalizada. Até agora, pelo menos 10 pessoas teriam morrido devido aos ataques, e muitas outras ficado feridas.
O escritório britânico Leigh Day foi contratado para representar as vítimas, que incluem moradores tanto do Maláui quanto da Zâmbia, em um processo que pode ser levado à Alta Corte da Inglaterra. A ação busca compensações financeiras e a implementação de medidas de segurança para proteger as comunidades locais.
A transferência dos elefantes ocorreu após anos de superpopulação no Parque Nacional de Liwonde, mas, em vez de melhorar a situação, os conflitos entre elefantes e as comunidades locais aumentaram drasticamente após a mudança. Os moradores alegam que os elefantes têm invadido as áreas residenciais e destruído plantações, colocando em risco sua subsistência e segurança.
“A relocação foi baseada na ideia de que elefantes e humanos poderiam coexistir pacificamente, circulando livremente pelas terras agrícolas das pessoas. É uma fantasia criada para doadores nos Estados Unidos, Reino Unido e Europa, que conhecem elefantes apenas de filmes, circos ou zoológicos”, destacou Mike Labuschagne, que já trabalhou no IFAW, à AFP.
Confrontos
Um agricultor de 73 anos relatou ao jornal britânico The Guardian ter perdido suas plantações cinco vezes apenas em 2024: “Três vezes em abril, duas em maio. Eu cultivava milho, cana, arroz e feijão. Tudo foi destruído. Antes da relocação, eu colhia até 35 sacos de arroz. Este ano, não colhi nada.”
Outra agricultora, que vive no lado zambiano do parque, teve o sogro morto pelos elefantes. “Meu sogro era idoso e não conseguiu fugir. Foi pisoteado e morreu. A comunidade foi socorrê-lo, mas já era tarde", afirmou ao jornal.
Kannock Phiri, de 35 anos, perdeu a esposa em 2023, quando ela foi pisoteada por elefantes enquanto colhia vegetais. O filho mais novo do casal, que estava com ela no momento do ataque, escapou por pouco. “Os funcionários do parque trouxeram um caixão e um pouco de comida para o funeral. Depois desapareceram. Sem apoio. Sem indenização”, contou à AFP.
Embora os elefantes já habitassem a região, as vítimas relatam que os confrontos se intensificaram após a realocação, agravados pela ausência de barreiras eficazes entre o parque e as áreas residenciais.
O IFAW, por sua vez, afirmou em nota ter atuado apenas como "apoiador técnico e financeiro", atribuindo ao governo do Maláui a responsabilidade pela gestão do parque. Os moradores exigem que a ONG construa cercas adequadas e ofereça compensação pelas perdas humanas e materiais.
“Não podemos sair daqui, estas são terras herdadas de nossos ancestrais. Mudar exigiria muito tempo para recomeçar. Não podemos fazer nada, somos apenas seres humanos. Conhecemos a lei, não podemos atacar os elefantes. Queremos proteção. Somos um povo pacífico. Não queremos guerra com os elefantes. Só queremos paz”, afirmou um dos autores da ação, segundo o The Guardian.


