Passetto di Borgo: Conheça a rota secreta de fuga do papa no Vaticano

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Na última semana, o mundo vem acompanhando todas as cerimônias e o processo de transição para um novo papado, após a morte do papa Francisco, aos 88 anos, no dia 21 de abril.
Com isso, grande atenção de todo o mundo vem caindo sobre o Vaticano, enquanto os católicos aguardam o período de luto e o eventual conclave, para eleger um novo papa. E embora o papa seja uma figura religiosa, ao longo da história os diferentes líderes da Igreja Católica também já exerceram grande influência política — o que, inclusive, lhes renderam alguns inimigos.
Por isso, para garantir a segurança do papa, não basta ele possuir um pequeno estado próprio — o Vaticano — e a poderosa Guarda Suíça em seu encalço. Para o caso de invasões, existe inclusive uma rota de fuga secreta e especial para ser utilizada pelo pontífice: o Passetto di Borgo.

Passagem secreta
Segundo o Atlas Obscura, à primeira vista, o Passetto di Borgo parece uma simples — e antiga — muralha de fortificação. Porém, o que nem todos os que passam ali por perto sabem é que em seu topo há uma passagem secreta. A área mais antiga da muralha data do ano 850, mas ela só foi concluída em sua forma atual em 1277.
Essa rota conecta a Basílica de São Pedro — o maior e mais importante edifício religioso do catolicismo e um dos locais cristãos mais visitados do mundo — ao outrora fortificado Castelo Sant'Angelo, em uma passagem de 800 metros. Com isso, seria possível que o papa fugisse da basílica, que mesmo com a Guarda Suíça, pode ser facilmente tomada por um cerco com muitos homens, até um local em que poderia ficar mais seguro.
Esse castelo, vale mencionar, foi construído em 135 d.C. pelo Imperador Adriano, a princípio como um mausoléu pessoal, mas após a grande peste que atingiu a cidade em 590, acabou sendo renomeado como Castelo Sant'Angelo.
Inclusive, diz-se que o papa Gregório I viu o Arcanjo Miguel no topo do castelo, simbolizando o fim da peste — o que explica a escultura do arcanjo que pode ser vista ali hoje, feita por Rafael, segundo o Rome Reports.
Este é um dos monumentos que melhor representam a cidade de Roma. É um monumento da antiguidade que, ao contrário de outros, não foi destruído, mas sim transformado. Quem vem aqui ainda pode ver o mausoléu de Adriano", conta a diretora de museus do Lácio, Edith Gabrielli, ao Rome Reports.

Papa Clemente VII
Uma figura que precisou realmente aproveitar-se da rota de fuga foi o papa Clemente VII. Tudo começou no dia 6 de maio de 1527, quando um exército imperial composto por 35 mil espanhóis, flamengos, italianos e alemães invadiu Roma, no episódio que ficou conhecido como o "Saque de Roma".
Na ocasião, o papa estava do lado errado da política internacional de apropriação de terras, além do cenário da Europa após as reformas religiosas que vinham sendo fermentadas desde os protestos de Martinho Lutero uma década antes. E como a Basílica de São Pedro era um vasto palácio luxuoso, mas mal defendido, o papa Clemente VII foi encurralado pelas tropas.

Foi então que, com a defesa fracassada e os invasores entrando na cidade, a Guarda Suíça conduziu o papa pela rota de fuga raramente utilizada, o Passetto di Borgo, por onde poderia chegar ao Castelo Sant'Angelo, uma estrutura mais fortificada e que poderia lhe garantir mais segurança.
Enquanto Clemente VII fugia pela passagem, supostamente enrolando seus longos trajes papais nos braços, os invasores conseguiram entrar na basílica, e travaram uma batalha brutal contra a Guarda Suíça.
Ao todo, havia 189 guardas em serviço naquele dia, e apenas 42 deles sobreviveram — desde então, a Guarda Suíça jurou lealdade e proteção ao papa e ao Vaticano, alegando que o faria mesmo que isso custasse a própria vida de seus membros, e isso permanece até hoje.

Rapidamente, a cidade caiu e o papa não teve como escapar do castelo por um mês, enquanto toda a área era saqueada. Relatos da época atestam que Roma tinha uma população de 55 mil habitantes antes do Saque, mas, nesse momento, havia apenas 10 mil, visto que os moradores locais eram mortos ou precisaram fugir para se salvar.
Foi só após pagar por um resgate e ser mantido como refém pelas tropas invasoras por mais cinco meses, que Clemente VII finalmente conseguiu escapar para Orvieto, disfarçado de mascate (um tipo de mercador ambulante).

Outro papa que precisou utilizar a passagem secreta foi Bórgia Alexandre VI, que a ampliou e concluiu nos moldes que possui até hoje em 1492 — bem a tempo de precisar utilizá-la para fugir dos franceses, que invadiram Roma apenas dois anos depois.
Visitação
Aos interessados por conhecer essas construções históricas de Roma e do Vaticano em detalhes, hoje o Passetto já não é exatamente uma rota secreta, passando anos em estado de abandono desde a última fuga papal e fechado à visitação — por mais que a Guarda Suíça ainda mantivesse em mãos uma chave para o papa, em casos de emergência.
Porém, em 2000, em homenagem ao ano do Jubileu do Papa, o Passetto foi reformado e reaberto temporariamente e, mais recentemente, em dezembro de 2024, foi reaberto mais uma vez à visitação.
"O 'passetto' pode ser visitado todos os dias, e há duas visitas guiadas. Uma às 11h e outra às 16h, disponíveis em inglês e italiano. Através de um programa chamado 'Castelo Secreto', você aprenderá não apenas sobre esta passagem, mas também sobre outros lugares escondidos do Castelo, como a prisão ou o quarto onde o Papa Clemente se escondeu. No verão, você também pode visitar à noite", explica Edith Gabrielli ao Rome Reports. "Talvez o momento mais mágico do 'passetto' seja quando se caminha por ele e se observa a cidade surgir dos dois lados", opina, por fim.


