O mundo anda sem sono (eu também)
Bons Fluidos

Quem nunca passou horas revirando na cama, brigando com o travesseiro, olhando para o teto e fazendo contas malucas? (“se eu dormir agora ainda dá para descansar cinco horas… quatro horas… três horas…”). A verdade é que, em pleno século XXI, ter uma boa noite de sono virou quase um luxo. A insônia deixou de ser exceção e se transformou numa epidemia silenciosa que rouba energia, humor e qualidade de vida de milhões de pessoas.
Quais são as causas da insônia?
Estima-se que entre 10% e 30% da população mundial sofra de insônia em algum momento da vida. Em países como o Japão, por exemplo, a busca no Google por “não consigo dormir” é cerca de 15 vezes maior do que a média mundial. No Reino Unido, mais de um terço dos britânicos afirmam dormir menos do que deveriam. E nós? Bem, seguimos acordados madrugada adentro, muitas vezes com o celular como companheiro fixo, empurrando o sono para cada vez mais longe.
Os culpados são muitos: excesso de telas, ansiedade, estresse, demandas do trabalho, preocupações financeiras, e até aquele hábito de levar o notebook para a cama. Resultado: nunca tivemos tanta informação… e tão pouco descanso. Aliás, esse artigo é um complemento ao que escrevi anteriormente, onde falei sobre tratamentos naturais como óleos essenciais, florais de Bach e higiene do sono. Se você ainda não leu, recomendo começar por lá!
Fitoterápicos e seus benefícios
Agora, vamos falar mais sobre o precioso que a natureza nos oferece: os fitoterápicos. Entre eles:
A Griffonia simplicifolia chama atenção por suas sementes ricas em 5-HTP, substância precursora da serotonina e da melatonina. Eles são neurotransmissores essenciais para regular nosso humor e induzir o sono. Seu uso pode trazer mais equilíbrio durante o dia e descanso profundo à noite, mas exige cautela: não deve-se utilizar junto a antidepressivos, pois há risco de excesso de serotonina no organismo, o que pode causar complicações sérias.
Já a Passiflora incarnata, popularmente conhecida como maracujá, é famosa por seus flavonoides e alcaloides, como a crisina e a vitexina, que interagem com os receptores GABA no cérebro, promovendo relaxamento e efeito sedativo leve. É uma planta segura e tradicionalmente usada como calmante natural, mas seu consumo pode potencializar os efeitos de medicamentos sedativos e ansiolíticos, e isso precisa ser levado em conta.
Outra aliada conhecida é a Valeriana officinalis, cujo nome aparece em estudos desde a Antiguidade. Seus princípios ativos, como o ácido valerênico, atuam também no sistema GABA, reduzindo a agitação e facilitando o sono. É indicada especialmente para pessoas que demoram a pegar no sono, mas, em algumas situações, pode provocar sonolência residual pela manhã, além de tontura ou dor de cabeça. O uso prolongado e em doses elevadas também não é recomendado, pois pode desencadear efeitos indesejados.
A delicada camomila (Matricaria recutita), tão conhecida no ritual do chá noturno, deve sua fama calmante ao flavonoide apigenina, que se liga a receptores cerebrais e ajuda a reduzir a ansiedade. É uma planta suave e segura para a maioria das pessoas, mas quem tem alergia a margaridas, crisântemos ou plantas da mesma família deve evitá-la. Além disso, seu uso em excesso pode interagir com anticoagulantes, aumentando o risco de sangramentos.
Também muito presente nas cozinhas, a erva-cidreira (Melissa officinalis) possui óleos essenciais como citral e citronelal, que contribuem para reduzir o estresse e acalmar o sistema nervoso central. É bem tolerada e aparece em muitas combinações fitoterápicas, mas deve-se utilizar com cautela por quem já utiliza medicamentos para hipotireoidismo. Afinal, pode interferir na função da glândula.
E não podemos deixar de lado a lavanda (Lavandula angustifolia), uma planta que conquista tanto pelo aroma quanto pelos benefícios. Seus óleos essenciais ricos em linalol e acetato de linalila apresentam efeito relaxante e sedativo. Utiliza-se em infusão, cápsulas ou aromaterapia. Em algumas pessoas, porém, o uso concentrado do óleo essencial pode causar irritação de pele ou desconforto gástrico quando ingerido sem supervisão.
Como consumir?
O mais importante é destacar que, embora todas essas plantas tenham um histórico de uso seguro e tragam benefícios comprovados, não deve-se consumi-las de forma aleatória. O consumo de fitoterápicos precisa de prescrição e acompanhamento de um profissional de saúde – seja médico, farmacêutico ou nutricionista com especialização em fitoterapia.
Utilizam-se essas plantas na forma de infusões tradicionais ou em cápsulas manipuladas, geralmente a partir de extratos secos ou em pó. A dosagem e a posologia variam de acordo com cada caso clínico e devem sempre seguir a recomendação profissional. A boa notícia é que todos esses fitoterápicos estão disponíveis em farmácias de manipulação, o que facilita o acesso, desde que com a devida prescrição.
Dormir bem não é luxo, é necessidade vital. E se a vida moderna insiste em roubar o descanso, recorrer à sabedoria da natureza pode ser um caminho para retomar o equilíbrio. Com a devida orientação algumas plantinhas podem se transformar em parceiras valiosas para recuperar aquilo que anda tão raro: uma noite inteira de sono tranquila e reparadora. Bons sonhos!
