Por que Elizabeth I, a 'Rainha Virgem', jamais se casou?

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Elizabeth I, filha de Henrique VIII com Ana Bolena, foi a única rainha inglesa que jamais se casou. Ao longo de seus 45 anos de reinado, ela se manteve fiel à imagem da "Rainha Virgem", cultivando um papel que era ao mesmo tempo símbolo de devoção à Inglaterra e estratégia política cuidadosamente calculada. Mas o que levou uma das monarcas mais influentes da história britânica a rejeitar tantos pretendentes e o próprio casamento?
Algumas respostas podem ser encontradas num episódio emblemático: a visita de Elizabeth ao Castelo de Kenilworth, em julho de 1575. Foi a mais longa e a última vez que ela esteve no local, propriedade de Robert Dudley, Conde de Leicester.
Favorito da rainha e, para muitos, seu verdadeiro amor, Dudley gastou fortunas reformando o castelo e preparando festas grandiosas com música, fogos de artifício, acrobacias e espetáculos aquáticos. Como destacou o portal BBC, tudo parecia uma tentativa desesperada de impressionar a soberana e, quem sabe, convencê-la a finalmente aceitar um casamento.
No ápice das festividades, estava prevista uma performance com Diana, deusa da castidade, buscando por sua ninfa desaparecida chamada Zabetta — uma alusão a Elizabeth. O clímax traria a deusa Juno, protetora do casamento, instando a rainha a abandonar o caminho da castidade e se unir a um marido.
Mas a peça foi cancelada. A versão oficial culpou o mau tempo, enquanto que outros suspeitam que Elizabeth tenha considerado o gesto ousado demais. Afinal, seu reinado era construído sobre uma cuidadosa imagem de independência e autoridade singular. Um casamento, mesmo com alguém tão próximo como Dudley, colocaria essa imagem em risco.
Hoje, a visita a Kenilworth foi recriada na instalação artística Wicked Game, da artista Lindsey Mendick, que expõe as tensões daquele momento. Elizabeth aparece retratada como um leão equanto Dudley como um urso. As figuras se movimentam num tabuleiro de xadrez estilhaçado, uma metáfora precisa das manobras políticas e emocionais em jogo. "Para mulheres poderosas como Elizabeth, recusar-se a se casar ou ter filhos foi um ato radical de autopreservação e autonomia", diz Mendick.

Razões
Desde o início de seu reinado, em 1558, Elizabeth enfrentou pressões para se casar. Seus conselheiros temiam que a ausência de um herdeiro levasse a Inglaterra à instabilidade. Parlamentares insistiam que uma mulher, sozinha, não poderia comandar um país. Mas Elizabeth tinha ideias próprias — e razões pessoais profundas para resistir à ideia do matrimônio.
A infância de Elizabeth foi marcada por tragédias familiares. Aos três anos, viu sua mãe ser decapitada por ordem de seu pai. Depois, testemunhou o destino cruel de outras esposas de Henrique VIII. A morte por parto de Jane Seymour e Catarina Parr, ambas esposas do rei, somava-se ao trauma. Assim, alguns estudiosos levantaram a hipótese de que Elizabeth tinha medo de sexo, que, para ela, estaria ligado à morte.
Era também uma mulher extremamente instruída, falava cinco línguas, dominava retórica e história, e não tolerava a ideia de submissão a um homem.
Além das razões emocionais e pessoais, havia também motivos políticos. Um casamento com um príncipe estrangeiro poderia sujeitar a Inglaterra à influência de outras coroas, como a espanhola ou a francesa. Já uma união com um nobre inglês provocaria inevitáveis disputas internas. Permanecer solteira, portanto, era a opção mais estável.

Casada com o reino
Elizabeth também entendeu o valor simbólico de sua condição. Ao longo dos anos, se apresentou como casada com seu reino. Em 1559, declarou ao Parlamento "estar já ligada a um marido que é o Reino da Inglaterra". Sua imagem como Rainha Virgem era ao mesmo tempo uma negação e uma afirmação — negava os homens ao seu lado, mas afirmava seu poder absoluto sobre o trono e o povo.
Além disso, a fonte destaca que, possivelmente, a rainha usava a expectativa em torno de um possível casamento como instrumento diplomático, especialmente em suas negociações com a França e a Espanha.
Mesmo Dudley, talvez o homem mais próximo de conquistá-la, não foi exceção. Após o episódio de Kenilworth, continuou próximo da rainha, embora tenha se casado, em 1578, com Lettice Knollys, o que causou fúria em Elizabeth. Quando Dudley morreu, em 1588, a rainha se trancou em seus aposentos por dias. Uma carta dele, guardada em uma caixa ao lado de sua cama até sua morte, carregava a inscrição: "Sua última carta."
No final das contas, ao rejeitar as amarras do casamento, Elizabeth I foi capaz de moldar seu próprio destino e, além disso, garantir sua autoridade.



