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Freud explica: As massas e o cancelamento digital
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Freud explica: As massas e o cancelamento digital

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Aventuras Na História
27/07/2025 13h00
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©Getty Imagens
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A ascensão das redes sociais transformou radicalmente a forma como as pessoas se relacionam, expressam opiniões e constroem identidades. Embora seja um fenômeno contemporâneo, alguns mecanismos psíquicos presentes nesse ambiente digital já haviam sido analisados por Sigmund Freud em Psicologia das Massas e Análise do Eu. A obra, publicada originalmente em 1921, ganha nova edição do Grupo Editorial Edipro, como parte da Coleção Freud.

Ao observar o comportamento dos indivíduos em grupos, o “pai da psicanálise” revelou dinâmicas de identificação, idealização e desinibição que permanecem surpreendentemente atuais. Nas redes, o sujeito não está isolado: ele se insere em comunidades, bolhas e movimentos que funcionam como massas digitais.

Assim como nas multidões físicas descritas por Freud, os usuários online tendem a se unir em torno de figuras idealizadas — líderes de opinião, influenciadores ou perfis populares — e compartilham afetos comuns. O comportamento coletivo, muitas vezes, se sobrepõe ao juízo individual, gerando reações padronizadas, polarizações e cancelamentos em escala massiva.

Essa dinâmica revela como o sujeito nas redes pode abdicar de parte de sua autonomia psíquica para pertencer, sendo conduzido por laços afetivos e desejos inconscientes.

A leitura de Freud ajuda a compreender por que o ambiente digital, mesmo sem contato físico, pode reproduzir com tanta força as paixões, violências e ilusões de uma massa. Olhar para as redes com lentes freudianas é, portanto, um convite a pensar além dos algoritmos e refletir sobre os aspectos mais profundos do psiquismo coletivo.

Aqui vão algumas relações centrais entre a obra e o fenômeno das redes sociais:

1. Sentimento de pertencimento

Freud argumenta que, ao entrar numa massa, o indivíduo abdica de parte de sua autonomia psíquica em nome de uma identificação com o grupo. Nas redes sociais, vemos esse fenômeno com nitidez: perfis pessoais se tornam parte de

bolhas e comunidades digitais que compartilham códigos, afetos e até reações padronizadas (curtir, cancelar, exaltar etc.). O sujeito, muitas vezes, passa a agir não a partir de um juízo crítico próprio, mas movido pelo sentimento de pertencimento ao grupo.


2. Idealização da figura de liderança

Freud destaca que as massas se organizam em torno de líderes idealizados, que funcionam como modelo e polo de identificação. Nas redes, influenciadores, criadores e até mesmo perfis anônimos podem assumir esse papel. O seguidor internaliza o líder como um "ideal do eu", modelando desejos, valores e comportamentos a partir dessa figura, muitas vezes com uma fé cega semelhante à que Freud descreve na adesão às lideranças carismáticas.


3. Desinibição e regressão

Na massa, o sujeito regrediria a formas mais primitivas do psiquismo, reduzindo a censura interna (superego) e agindo com menos responsabilidade individual. É o que também se observa em comportamentos como cyberbullying, discursos de ódio e linchamentos virtuais, onde pessoas aparentemente comuns se permitem ataques e violências que não fariam no espaço físico, individualizado.


4. Eros e identificação

Freud propõe que o elo entre os membros da massa é libidinal, há um investimento afetivo comum que os une. Nas redes, vemos essa energia circulando na forma de identificação afetiva (positiva ou negativa) com causas, memes, influenciadores ou eventos. É esse investimento que torna os debates tão inflamados: o outro não é só alguém com opinião diferente, mas alguém que ameaça meu objeto de amor ou de identificação.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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